ORIGEM E HISTÓRIA SALVE RAINHA
Autoria da oração é atribuída ao monge Hermano Contracto, que a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenau, no Sacro Império Romano-Germânico.
Naquela época, a Europa central passava por calamidades naturais, epidemias, miséria, fome e a ameaça contínua dos povos nómadas do Leste, que invadiam os povoados, saqueando-os e matando.
Frei Contracto nascera raquítico e disforme e, na idade adulta, andava e escrevia com dificuldade. Foi nesta situação que criou esta prece, mesclando sofrimento e esperança
Salve Regina de Hermano de Reichenau, cantada por Les Petits Chanteurs de Passy (notação gregoriana aqui).
Segunda a crença, quando nasceu e constataram o raquitismo e má-formação do bebê, sua mãe, Miltreed, consagrou-o no leito a Maria, sendo ele educado na devoção a ela. E, anos mais tarde, foi levado de liteira, por ser deficiente físico, até Reichenau, onde, com o tempo, chegou a ser mestre dos noviços.
Quando veio a ser conhecida pelos fiéis, a “Salve Rainha” (em latim: “Salve Regina”) teve um sucesso enorme, e logo era rezada e cantada em muitos locais. Um século mais tarde, ela foi cantada também na Catedral de Espira, por ocasião de um encontro de personalidades importantes, entre elas, a do imperador Conrado III e São Bernardo, conhecido como o “cantor da Virgem Maria”, ele que foi um dos primeiros a chamá-la de “Nossa Senhora”.
Dizem que foi nesse dia e lugar que, ao concluir o canto da “Salve Rainha”, cujas últimas palavras eram “mostrai-nos Jesus, o bendito fruto do vosso ventre”, no silêncio que se seguiu, São Bernardo que gritou sozinho no meio da catedral: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria”… E, a partir dessa data, estas palavras foram incorporadas à “Salve Rainha” original.
ÓRIA SALVE RAINHA
O VALE DE LÁGRIMAS
Dom Nuno Brás da Silva Martins, bispo auxiliar de Lisboa.
O texto foi adaptado à grafia e à sintaxe do português brasileiro. Diz ele:
Confesso que comecei por entender a expressão “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”, da Salve Rainha, como fruto de um cristianismo pessimista, vivido essencialmente com o pensamento na cruz do Senhor e com a ideia de que tudo, no mundo, era mau. Por isso compreendo tantos que têm dificuldade em rezar esta antífona que faz parte da nossa tradição Mariana. Certamente, e digo isto sem qualquer tom de crítica, reconheço que muitos a rezarão naquele tom resignado e derrotado. Mas devo confessar, igualmente, que hoje rezo essa oração como expressão grande da fé. É que, por mais que nos esforcemos, de um modo ou de outro, todo ser humano vive momentos de sofrimento e de solidão, de abandono e até desespero, de morte. Não vale a pena criar a ilusão (nem sequer e muito menos nas crianças) de que a vida será sempre um caminho de vitórias e sucessos, de alegrias e conquistas. Mesmo as historinhas que terminam com o célebre “e foram felizes para sempre” começaram ou passaram por um ou vários momentos de dificuldade dos protagonistas. Contudo, hoje (como sempre) não são necessárias “historinhas”. Basta ter os olhos abertos para o mundo humano que nos envolve. E se nós não estamos passando por algum momento difícil, olhemos à nossa volta – e não precisamos procurar muito: o desemprego, as famílias destroçadas e desunidas, a falta de sentido para a vida… todas as misérias materiais, morais ou espirituais estão bem ali, ao nosso lado. E, não raras vezes, nos sentimos impotentes para dar uma ajuda, pequena que seja, àqueles que passam por esses momentos difíceis. É por isso que o grito cristão que se dirige a Deus, por intermédio da Virgem Maria, neste “vale de lágrimas” que é a vida humana, mais do que expressão de alguém resignado à sua sorte, é, antes, o reconhecimento de que apenas Deus pode, verdadeiramente, resolver as lágrimas humanas – nossas e de tantos que vivem conosco. Também Deus, em Jesus de Nazaré, experimentou (e como!) o “vale de lágrimas” que quis tornar seu; mas, ao mesmo tempo que o vive de modo plenamente humano, Ele mostra que não será nunca a morte quem tem a última palavra. A última palavra será sempre pronunciada por Deus, e será sempre uma palavra de amor, de vida eterna!